Como muitos devem ter visto, fui um dos parlamentares que votou pelo apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) para presidente da Câmara dos Deputados. Esse debate em torno da posição do PT deve mesmo ser feito e há bons argumentos em ambos os lados da questão, e por entender que é fundamental ter transparência junto à militância, quero explicar meu ponto de vista para refletirmos os caminhos da oposição a Bolsonaro.
É preciso compreender a importância dessa eleição para o nosso país. Diante de uma pandemia descontrolada, que vitimará nos próximos dias quase 200 mil brasileiras e brasileiros, e tendo em vista a inação criminosa de Jair Bolsonaro, cujo negacionismo e indigência intelectual e governamental fazem do governo brasileiro atual um agente da morte, o Congresso Nacional ocupa um espaço importante na luta por garantia de direitos à população. Foram os deputados federais e senadores que garantiram, por exemplo, o pagamento do Auxílio Emergencial, a Lei Aldir Blanc, entre outras conquistas. Frear Bolsonaro agora e durante o ano de sua tentativa de reeleição é imprescindível.
Tenham a certeza: apesar das profundas divergências que temos com Rodrigo Maia, e da proximidade deste com pautas econômicas defendidas por Paulo Guedes, caso Maia fosse totalmente alinhado a Jair Bolsonaro, teríamos uma Câmara paralisada ou pior, um puxadinho do Palácio do Planalto. Com um diálogo mínimo, foi possível impedir a aprovação de inúmeros retrocessos na pauta ambiental, como a mineração em terras indígenas, ou a MP da Regularização Fundiária.
Trata-se do mesmo cálculo agora. Havia uma chance real de Arthur Lira ser vencedor da eleição já em primeiro turno caso lançássemos candidatura própria. Aliado de primeira hora de Bolsonaro na Câmara, Lira teria uma legitimidade enorme para aprovar o que há de mais nefasto no programa de desgoverno bolsonarista, inclusive em pautas ligadas a Direitos Humanos e que praticamente devastariam o que restou da Constituição de 1988. A demarcação heroica poderia resultar em uma consciência supostamente pura, mas traria estragos incalculáveis.
Nosso apoio a Baleia não é ideológico, tampouco capitulação. É uma oportunidade de conter estragos e impedir um processo de transformação da Câmara em uma espécie de beija-mão de Bolsonaro e seus generais atrapalhados que invadiram o Executivo. Pejorativamente, alguns acusam de estarmos atrás de cargos e espaços. No entanto, não avaliam a importância de incidir na pauta da Câmara, bem como assumir relatorias de projetos de lei que podem fazer diferença, para o bem ou para o mal, na vida do povo, e que nós do PT estamos praticamente fora desse jogo desde 2015, quando Eduardo Cunha tomou o controle da Câmara em situação parecida com essa.
Estar na luta institucional pressupõe escolhas, disputas, e tomar posições num Congresso majoritariamente de centro ou centro-direita. A maior bancada da Câmara dos Deputados não poderia dar ao luxo de declarar isenção, que seria na prática uma candidatura própria. Não temos ilusões quanto ao caráter dessa aliança. É parte de um processo de garantia mínima de um ambiente democrático e da construção de consensos em questões como a vacinação em massa da população e a prorrogação do Auxílio Emergencial em 2021.
Seguiremos no mesmo lugar de sempre, em defesa dos pobres de nosso país, das mulheres, dos negros e negras, da população LGBTQIA+, da juventude, das populações das periferias, dos indígenas, dos quilombolas, dos sem-terra, dos trabalhadores da cidade. Nossa posição atual, o tempo dirá, reforça isso. Quem defende você é o PT, e assim continuará sendo.
Deputado Federal Nilto Tatto PT-SP
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