Entre as pautas encampadas pelo meu mandato como deputado Federal em Brasília, a defesa dos povos indígenas e quilombolas, por exemplo, caminha lado a lado com a luta pelos direitos da população em situação de rua, dos jovens negros e periféricos, assim como do povo palestino. Quem não conhece a fundo a realidade desses grupos, pode pensar que são situações muito distintas, mas não são.
Embora cada um possua uma condição muito particular, todos eles enfrentam, historicamente mas também a cada dia, a tentativa de apagamento de suas existências através da eliminação de seus corpos e supressão de seus territórios. Se forem destituídos de suas terras, tanto os indígenas quanto os palestinos, (apenas para citar alguns exemplos), deixariam de existir, não enquanto indivíduos, mas enquanto povo, uma vez que teriam sua cultura e seu modo tradicional de vida extintos e passariam a figurar apenas nos livros de história.
Esse apagamento é também o que vem acontecendo com moradores das periferias e a população em situação de rua que, embora venham crescendo vertiginosamente, são invisibilizados e marginalizados em uma sociedade desigual e excludente. É verdade que pessoas em situação de rua não caracterizam um povo, mas também é verdade que entre eles, bem como entre os moradores de favelas, a grande maioria é de negros, parcela da população que tem seus direitos usurpados pelo menos desde o Brasil colônia.
Junto com o apagamento, caminha um processo de desumanização destes corpos, brutalizados numa tentativa de conduzir sua extinção. Embora representem 52% da população brasileira, negros são as vítimas de aproximadamente 75% das mortes em ações policiais. A chance de um jovem negro ser vítima de homicídio é 2,5 vezes maior do que a de um jovem branco, o que caracteriza um verdadeiro genocídio, que também vem acontecendo com os povos indígenas e igualmente com o povo palestino, no Oriente Médio.
A desumanização ajuda a criar um clima de indiferença entre a população não indígena, não negra e não palestina, frente à seu extermínio, num processo de disputa de seus territórios ou de exploração de sua mão de obra. A nossa luta, portanto, está conectada e depende da retomada de valores de solidariedade e de justiça social. Se perdermos estas batalhas, teremos perdido também a nossa própria humanidade.
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