Ao visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro no começo de 2022, o bilionário Elon Musk se comprometeu a promover o acesso à internet para cerca de 19 mil escolas públicas brasileiras por meio de sua rede de satélites, a StarLink. Mais de um ano depois, apenas 3 escolas do Amazonas receberam o equipamento, que foi encontrado em maior quantidade no garimpo ilegal, que atua dentro de território indígena, do que nas unidades de ensino.
É evidente que os garimpeiros podem ter adquirido tais equipamentos no mercado paralelo, mas não deixa de ser curioso que os aparelhos tenham sido encontrados tão pouco tempo depois do acordo entre o controverso empresário e o ex-presidente reconhecidamente genocida. Além disso, o dono da StarLink também é sócio da Vale, que explora níquel em território indígena no Canadá e lucra com o projeto de extração do mesmo minério em Onça Puma, no Pará.
A cereja do bolo, no entanto, fica para a declaração pública de Elon Musk sobre a Bolívia, quando em 2020, afirmou que “daria um golpe em quem quisesse", se referindo ao então presidente do País, Evo Morales, a quem queria ver fora do caminho para acessar as maiores reservas de lítio do mundo. Talvez por coincidência, ou não, aquela foi mais uma investida do bilionário contra os povos indígenas.
Outro fato curioso que chama atenção sobre o dono da Tesla e da Starlink, é que sua fortuna aumentou em quase 10 vezes durante a pandemia, que ele inclusive ajudou a desacreditar - em 2020, seu patrimônio era de 24,6 bilhões de dólares, enquanto hoje já atingiu 219 bilhões. Aumentar o patrimônio nunca foi crime, mas precisamos admitir que algo está errado quando alguém ganha tanto dinheiro em um período de retração intensa da economia global, aumento exponencial da fome e da extrema pobreza, com a morte de 20 milhões de pessoas e a contaminação de outras 720 milhões ao redor do mundo.
O que foi feito no Brasil nos últimos 6 anos, em especial nas terras indígenas e unidades de conservação, que sofreram e ainda sofrem com invasões, desmatamento, queimadas, contaminações, conflitos e mortes, precisa ser apurado. Está cada vez mais claro que existe um grande interesse nas riquezas das nossas florestas, inclusive de empresas e investidores internacionais, mas também de organizações criminosas de toda sorte e que o Estado tem papel fundamental neste enfrentamento. Precisamos cuidar com muito carinho da nossa sociobiodiversidade, que talvez seja a nossa maior riqueza para esta e as futuras gerações.
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