“Venho diante de vocês porque esperamos que se engajem em um combate que nós não podemos nos ausentar, nós que somos atacados diariamente e esperamos que o milagre verde surja da coragem de dizer o que deve ser dito. Venho juntar-me a vocês para lamentar os rigores da natureza. Venho a vocês para denunciar o homem cujo egoísmo é a causa da desgraça de seu próximo. A pilhagem colonial dizimou nossas florestas sem a menor intenção de replantá-las para nosso futuro.”
As palavras acima foram retiradas de um discurso proferido pelo revolucionário líder africano Thomas Sankara, em Paris, na primeira Conferência pela Proteção da Árvore de 1986. Além de presidente de Burkina Faso, Sankara era reconhecido mundialmente por sua luta anticolonial e pan-africanista, que incluía o enfrentamento à desertificação do seu País, até seu assassinato em 1987. “Não somos contra o progresso, mas queremos que o progresso não seja anárquico e criminalmente alheio aos direitos dos outros. Queremos, portanto, afirmar que a luta contra a desertificação é uma luta pelo equilíbrio entre o homem, a natureza e a sociedade. Como tal, é sobretudo uma luta política e não uma fatalidade.”
As palavras de Thomas Sankara, proferidas há 37 anos, caem como uma luva quando discutimos temas contemporâneos como as emergências climáticas e o racismo ambiental. Elas também dialogam sobremaneira com a luta dos povos indígenas, quilombolas, do povo preto da periferia e até dos palestinos pelo direito à terra. Assim como o saudoso seringueiro e líder sindical Chico Mendes, Sankara sabia que a luta contra as desigualdades não poderia ser desvinculada da luta por um meio ambiente equilibrado, justamente porque são os excluídos que mais sofrem as consequências do modelo político-econômico predatório de sociedade adotado pelo menos desde o período colonial. Neste mês da consciência negra, faço um convite para nos inspirarmos na revolução conduzida por
em Burkina Faso, que além de enfrentar inimigos tão poderosos como o imperialismo e o colonialismo, foi capaz de conter o avanço do implacável deserto, com medidas tão simples e eficientes quanto promover o plantio de árvores. Nas palavras do próprio pan-africanista burquinês, “devemos ousar inventar o futuro”.
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