Publicado originalmente em Gazeta de São Paulo, 05/05/2020
Vivemos um momento incomum na nossa história, não apenas pela pandemia de proporções globais, mas especialmente pela forma que o governo Bolsonaro está lidando com ela. Como se não bastasse a insegurança trazida pelo Novo Coronavírus, o cidadão brasileiro tem que lidar ainda com uma série de outros ataques, promovidos pelo seu próprio presidente, contra direitos trabalhistas, o meio-ambiente e a vida.
Vou me referir a esta estratégia adotada por Jair Bolsonaro como “destruição 360”, uma necropolítica que visa acabar com todas as conquistas e direitos socioambientais ao mesmo tempo, uma espécie de “blietzkrieg” contra sua própria nação. O mais cruel é que para colocar em prática a série de medidas impopulares e até inconstitucionais que vem adotando, o governo Federal se aproveita de um momento de extrema fragilidade da população e age na calada da noite. Vale destacar algumas questões que vem passando ao largo de discussões mais profundas com a sociedade, em virtude do contexto acima citado. Todos nós vimos a liberação recorde do uso de agrotóxicos na agricultura desde o início deste desgoverno, além dos impactos das declarações de Bolsonaro e do desmonte do Sistema Ambiental Brasileiro no aumento do desmatamento da Amazônia; nos conflitos agrários; no aumento da violência contra populações tradicionais, do garimpo e da grilagem. O que talvez muitos não tenham se atentado, é que nas últimas semanas o ministro do Meio Ambiente extrapolou mais uma vez os limites da Lei, anistiando os desmatadores da Mata Atlântica. A medida fere a Lei da Mata Atlântica, um importante mecanismo de proteção daquele bioma, mas Bolsonaro e seu bando parecem não se importar. O resultado de tudo isso é que quando esta pandemia passar, e ela vai passar, as condições de vida do povo brasileiro estarão duplamente comprometidas, seja pela crise e pelas mortes causadas pelo Coronavírus, com suas consequências econômicas e sociais, ou pelos golpes sofridos por quem deveria zelar por nós, o que torna o problema ainda mais grave.
Comments