Publicado originalmente em Gazeta de São Paulo em 19/05/2020
Há alguns meses, parlamentares comprometidos com a soberania nacional, o patrimônio público, a preservação dos recursos naturais e os povos tradicionais, vem lutando contra a dilapidação de terras da União. Mas foi apenas na semana passada, poucos dias antes do texto caducar, que o enfrentamento à Medida Provisória 910, conhecida como MP da Grilagem, teve seu maior êxito: a proposta foi retirada da pauta da Câmara.
Quem atua há mais de 30 anos no movimento socioambiental como eu, sabe que não se vence uma batalha contra o agronegócio, a especulação, grilagem de terra e a bancada ruralista sozinho. A conquista só veio após os parlamentares ganharem o decisivo reforço da sociedade civil, de cientistas, ambientalistas, entidades, movimentos sociais e personalidades como Bruno Gagliasso, Gisele Bundchen e Anitta, além das sempre presentes Laerte Coutinho e Bela Gil, apenas para citar alguns nomes.
Se a defesa da vida ganhou um exército quase imbatível, a artilharia pró-grilagem é pesada e joga sujo. Tão logo a MP 910 foi retirada da pauta, protocolaram na Câmara Federal um Projeto de Lei com o mesmo teor. O PL 2633/20 já tem relator definido e está sendo tratado pela bancada ruralista com extrema urgência. Querem votá-lo já nesta semana, ignorando as manifestações populares ainda frescas na memória e pior, ignorando a própria pandemia de Coronavírus, que segundo acordo entre os parlamentares, deveria ser pauta prioritária no momento.
É claro que a regularização fundiária não é um tema obsoleto, muito pelo contrário, o Brasil é um País que se notabilizou pelos conflitos agrários, que vem crescendo de forma assustadora. Ainda assim, da maneira que foi redigido, o texto não corrige estas violações, pelo contrário, deverá fomentar a violência no campo e nas florestas, o desmatamento e a grilagem. Quem acha que um dos países mais castigados pelo Coronavírus precisa produzir mais mortes, só pode ter desprezo pela vida.
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