A imparcialidade no jornalismo é um mito do qual muita gente sequer desconfia. Como seres humanos, cada um de nós tem pontos de vista, valores e interesses distintos. A imprensa se comporta da mesma maneira. Quem não tiver isso muito claro, corre o risco de achar que uma cobertura em cima do muro estaria sendo isenta ou imparcial.
Veículos de todos os portes tem linhas editoriais que funcionam como filtro apontado para os leitores, equalizando interesses de anunciantes, patrocinadores e acionistas. Quando um jornalista decide qual fonte entrevistar; quando um editor decide qual matéria apurar ou qual será o tema da capa e qual terá menos destaque, ele já está sendo parcial. Todo mundo tem lado, inclusive a imprensa.
No entanto, não podemos ser simplistas e ignorar que a maioria dos veículos da “grande imprensa” sequer assume o seu posicionamento, transferindo para o leitor/espectador a tarefa de identifica-lo em suas entrelinhas. Isso porque na maioria das vezes estes interesses são conflitantes com os interesses do público. Um bom exemplo tem sido a cobertura da greve dos petroleiros, deflagrada após uma demissão em massa no início do ano no Paraná.
De tema local a greve ganhou importância nacional quando trabalhadores incluíram em suas reivindicações a defesa da Petrobrás como empresa estatal em benefício da coletividade. A paralisação ganhou corpo e vem se transformando em um marco na nossa história, a favor do Brasil e dos brasileiros. Na grande imprensa, no entanto, nem uma linha, já que a greve contraria os interesses de grandes empresas e do capital que sustentam estes veículos.
Por isso é importante destacar que hoje a busca pela imparcialidade deve estar ligada à capacidade do leitor/espectador confrontar narrativas entre as mais diversas fontes e formas de acesso e não apenas na ação editorial dos grandes jornais. Faz-se urgente, portanto, fortalecer uma mídia alternativa e lutar pelas garantias de liberdade de imprensa. Só assim iremos combater esse viés anti-povo que tomou conta de parte da grande imprensa.
Artigo publicado pelo Deputado Federal Nilto Tatto no jornal Gazeta de São Paulo edição de 18/02/2020
* Nilto Tatto é deputado federal pelo PT de São Paulo. Foi presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados em 2017 e atualmente coordena a Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara.
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